quinta-feira, 6 de setembro de 2012


Sucesso na TV, Taís Araújo conta que amadureceu e se sente mais livre e mais feliz

Mãe e esposa dedicada, Taís Araújo, hoje com 33 anos, se emocionou ao falar do primeiro filho, João Vicente. O pequeno completou recentemente seu primeiro ano de idade

Sozinha numa mesa de canto, com óculos escuros e ligeiramente encoberta por trás do jornal espalmado à sua frente, a atriz Taís Araújo parece querer se esconder de alguém. Não é do assédio dos fãs, certamente, porque ela se encontra no restaurante de um hotel muito chique de São Paulo, cujos hóspedes costumam agir de forma comedida diante das celebridades. “Estou até sem coragem de sair para jantar”, diz ela, aos sussurros.
A razão do embaraço está sobre sua cabeça. Na véspera, Taís havia passado a tarde em um salão testando novos visuais para Penha, sua personagem na novela das 7, Cheias de Charme. O cabeleireiro deixou seus fios com um esquisito tom acobreado, que lembra refrigerante de laranja. Não por sadismo, mas porque as madeixas precisavam descansar das cores antigas antes da aplicação da nova tonalidade. “Mas vai melhorar”, dizia ela, brincando, com os cabelos amarrados num rabo de cavalo.
De todos os dramas de Taís Araújo naquela manhã de domingo, a cor dos cabelos era, de longe, o menor. O maior deles era a saudade que sentia de João Vicente, seu filho de 1 ano com o ator Lázaro Ramos, com quem é casada desde o ano passado. “João é um gostoso gordinho. Às vezes eu não resisto e mordo”, derretia-se, mostrando os vídeos feitos no celular do garotinho se arriscando nos primeiros passos. Desde que o bebê nasceu, Taís ingressou no grupo das mulheres que trabalham, têm filhos e se contorcem para dar conta de tudo e não sucumbir à culpa. Ela tem conseguido, mas não sem alguns apuros. Além de Cheias de Charme, Taís também está rodando o novo filme do diretor Sérgio Machado, Acorda Brasil (nome provisório). Com o tempo curto, definiu algumas prioridades, e malhar não está entre elas. “Não há chance de eu me jogar numa academia de ginástica se posso usar o tempo para ficar com o João”, explica. Enquanto fala, uma de suas melhores amigas, jornalista de economia, envia sem parar torpedos com comentários sobre uma discussão que acontecia na Festa Literária de Paraty.
Taís lê as mensagens com ar de interesse e espanto. Até que decide priorizar de novo: pede à amiga que pare, pois está no meio de uma entrevista e precisa se concentrar. Naquele fim de semana, a atriz dissertou por mais de uma hora sobre assuntos tão diferentes quanto a economia dos países em desenvolvimento e flacidez. E, cheia de saudade, chorou quando contou sobre o nascimento do gorducho do João Vicente.



Um clichê sobre a maternidade diz que, quando nasce um bebê, nascem também um pai e uma mãe. Você concorda?
Ah, achei que fosse citar aquele de que as mães viram uma onça. Esse, sim, é uma mentira.
Por quê?
Falam: “Com o filho nos braços, a mulher se sente a mais forte do mundo”. Eu penso que, então, sou péssima! Na boa, não me sinto assim. Minha sensação, pelo contrário, é de impotência, porque não tenho como lidar com o imponderável, o que gera uma frustração gigantesca. Foi na análise que descobri que isso é da boca pra fora. Meu analista falou: “A supermãe é uma cilada, não existe isso de ‘minha vida, meu filho’ ”. É o que a gente pode ser, é dar o seu melhor, é estar inteira.
Há muita idealização em torno da maternidade?
Tem várias mentiras, passando pela amamentação. Convivi com pessoas que tiveram bebês, não conseguiram amamentar e enfrentaram uma cobrança terrível. Digo sempre: “Se não conseguirem, não alimentem essa frustração!”
Você passou por isso?
Coloquei na cabeça que tinha que amamentar. Minha mãe me amamentou até os 6 anos. Ia à churrascaria, comia picanha, arroz, feijão, batata frita e depois mamava no peito da minha mãe (risos). Insisti e amamentei exclusivamente até os 6 meses – e dou o peito até hoje. Também existe cobrança em relação ao parto. Há mulheres que não conseguem ter parto normal e passam meses chorando por isso.
Como foi o seu parto?
Foi cesárea. Com sete meses de gravidez, fui visitar a maternidade e minha perna tremia. Fiquei muito nervosa. Liguei para minha irmã, que é ginecologista e obstetra, e perguntei: “O que eu faço?” Ela respondeu: “Faça o que for melhor para você e seu filho”. Pensei que o melhor seria se ela estivesse comigo na hora do parto. Como mora em Brasília, o único jeito seria marcar a cirurgia. E foi muito bonito. Quando ela tirou o João, eu me lembro da voz dela dizendo: “Eu tenho cabelos” (chora).

Seu corpo mudou muito na gravidez e depois dela?
Muito, e para melhor. Tenho mais curvas, meu corpo é agora mais feminino. Pode ser que eu esteja me aceitando mais, que tenha coisas mais importantes com que me ocupar (risos). Não tenho tempo para me preocupar com celulite. E não tive problemas com a minha barriga – claro que, se eu abaixar, ela faz “tchum”, pra frente. É barriga de mãe, né? Não dá para comparar com a de uma menina de 20 anos que nunca teve filhos.
Você está com 33 anos. Às vezes tem crises do tipo “não sou mais uma garota”?
Penso nisso, mas não como um martírio. Mudei muito dos 20 para os 30, especialmente no que se refere ao comportamento. Eu era muito eufórica, animada, otimista. Agora não tenho mais uma visão romântica da vida e acho que é reflexo da maturidade. Não existe mais aquela coisa de “tudo vai dar certo”. Os problemas estão aí, temos que encará-los. A vida não é um mar de rosas.
Na novela, você vive uma empregada doméstica, em um momento em que as relações dessas profissionais com os patrões passam por mudanças no Brasil. Você pensa que, como se diz por aí, estamos mais próximos do padrão de valorização desses serviços dos países desenvolvidos?
Estamos nos aproximando desse modelo. Mas, ao mesmo tempo, não temos uma estrutura que nos permita abrir mão de uma pessoa trabalhando diariamente na nossa casa. A grande diferença é que, agora, as meninas são mais esclarecidas e têm outras opções – podem trabalhar em lojas de shopping, fazer faculdade. Não estão mais condenadas a repetir o modelo de vida da mãe. Penso que este é um momento importante para o país. A única coisa que me preocupa é que economicamente estamos indo bem, mas não vejo o mesmo avanço na educação.
Já que tem um olhar crítico sobre o país, qual sua opinião sobre a presidenta Dilma Rousseff?
Acho essa mulher incrível, séria e trabalhadora. Eu, meus pais e minha irmã sempre tivemos uma estrutura econômica forte, mas todo o restante da minha família, não. Não preciso olhar longe para ver que a vida melhorou para quem tinha de melhorar.
E aquele clichê de que nasce a mãe junto com o bebê? Você não respondeu.
Antes de os filhos nascerem, somos cheios de teorias; depois nos perguntamos onde elas foram parar. Mas estou realizada. Não quero nada, só fazer meu trabalho da melhor maneira possível e voltar para casa. Minha única reclamação é que gostaria de ter mais tempo para ficar com meu filho. Fora isso, estou feliz.


Fonte: Claudia

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