Confira abaixo a entrevista com Tais Araújo:
iG: Ao fim da apresentação de seu espetáculo “A Caixa de Areia”, é fácil ouvir o público comentando sobre como você está diferente da TV. Foi por isso que você quis fazer este texto?
Tais Araujo: Na verdade, procurei o Jô Billac porque ele é um ótimo autor e porque tem um processo de criação muito diferente do que faço na televisão. Ele constrói o texto a partir do que o ator dá para ele. É algo artesanal. Não é um trabalho fácil porque todo mundo tem voz ativa e, quando se tem essa liberdade, vira um caos. Mas é um trabalho autoral e isso tem um valor grande. Quando ele disse, então, que queria falar sobre crítica, fechei na hora.
iG: Por quê?
Tais Araujo: Essa peça faz parte de uma trilogia dele: “Savana Glacial” fala sobre a inspiração do autor, “Popcorn” sobre a autenticidade do texto e “Caixa de Areia” sobre crítica. E eu também quis falar sobre isso. Tenho uma carreira de 16 anos na televisão e já lidei com as críticas de tudo quanto é jeito. Já me fez mal, já me fez bem, já tentei ignorar... Às vezes dá para absorver algo, mas algumas pessoas só querem te colocar para baixo. Você vê que tem de tudo e vai amadurecendo, inclusive, com as críticas.
iG: Com quais críticas você mais sofreu?
Tais Araujo: Sem dúvida alguma foi fazendo a Helena de Manoel Carlos. Eu fui espinafrada! Foi um processo superdoloroso e doído. Mas, quando passou, vi que todo esse sofrimento me fez melhor atriz e pessoa. E foi um papel que demorou para passar, para as feridas cicatrizarem... Ter conseguido passar por este desafio foi sensacional. Por isso, quando o Jô falou que queria falar sobre crítica, topei na hora. O que vivi por Helena foi algo transformador.
iG: Sua personagem na trama é uma mulher que fala o que pensa. Isso é uma qualidade ou defeito?
Tais Araujo: Quando se fala de maneira impulsiva, beiramos o defeito porque não se mede as consequências. Falar tudo que se pensa é uma imaturidade ou quase uma ingenuidade, no pior sentido da palavra. Porque a pessoa vive numa sociedade e, ao falar qualquer coisa, pode desrespeitar o outro. Aí tentam justificar: “Não sou demagoga”. Isso não é demagogia ou ética! É saber que ela está em uma sociedade.
iG: Em uma entrevista, você disse que sofreu preconceito no início da sua carreira. Como avalia o cenário atual?
Tais Araujo : O preconceito continua aí e vai continuar porque está na nossa cultura. É claro que tem melhorado muito, que há mais oportunidades. Mas não posso falar que melhorou 100% porque estaria mentindo. Meu filho vai crescer e ainda vai encontrar um país preconceituoso e ter dificuldades por aí.
iG: Como vai conversar com ele sobre isso?
Tais Araujo: Vou conversar e prepará-lo como profissional para encarar o mercado de trabalho de maneira potente. Quero que ele seja um profissional completo para poder competir de igual por igual. Mas isso é o meu filho, né? Tenho condições de botar ele em um bom colégio, para estudar línguas. E é aí que você vê o grande preconceito desse país. Meu filho, infelizmente, é uma exceção. Se, pelo menos, 15% da população tivessem as mesmas oportunidades que ele tem, as coisas iam começar a melhorar. Até acredito que isso está aumentando. Há políticas afirmativas que estão ajudando a melhorar.
iG: Você é uma mãe liberal?
Tais Araujo: Não. Desde bebê, o Jovi tem uma rotina regrada. Isso faz parte e acho que a criança gosta também. Nós também já colocamos limite nele. Claro, o limite possível para uma criança de um ano e nove meses. Ele está começando a nos testar. E é nesse momento que ele tem de saber que nem tudo ele vai conseguir. Mas, também não sou durona, assim. Quero ter uma relação de diálogo com ele.
iG: No ano passado, você disse que queria ter outro filho...
Tais Araujo: Tô tentando. No tempo vago é isso que eu faço. Prometo (risos). Uma hora vai acontecer.
iG: Na peça, sua personagem tem uma relação desrespeitosa com o marido. Como você e Lazáro mantêm a liberdade no casamento?
Tais Araujo: Minha personagem é fruto da mulher da década de 50. Vivia para a família, mas internamente tinha um desejo de liberdade paradoxal com a vida que ela tinha construído. Vivemos de outra maneira hoje. Trabalho tanto quanto o meu marido e tenho uma vida tão próspera quanto à dele. Mas, se existir alguma receita para um relacionamento é ter diálogo e respeito, basicamente. Com isso, você vai levando. Claro, temos nossos defeitos e percalços, como qualquer casal. Mas com respeito e conversa a gente se resolve.
iG: Você está no elenco da série “O Dentista Mascarado”. Como está sendo explorar o seu lado cômico?
Tais Araujo: Me sinto na base da cadeia alimentar da comédia! (risos) Estou me divertindo muito. Quando estou indo trabalhar, parece que vou para o recreio do colégio. Se eu tinha qualquer pudor, relacionado a qualquer coisa, tive de perder. O texto da Fernanda (Young) e do Alexandre (Machado) é amoral, tem liberdade. E a personagem é assim. Tem de tudo: desde me vestir de freira para dar um golpe até alguém mordendo minha bunda. Conquistei, nessa série, coisas que uma pessoa não conquista a carreira inteira. Estou falando de coisas bagaceiras, sabe? (risos) Fico brincando que ninguém vai me respeitar mais.
iG: Isso te preocupa?
Tais Araujo: Não. De jeito nenhum. É essa diversidade que procuro na minha carreira. Claro, faço a dramaturgia clássica da novela. Mas dá uma liberdade pegar o pudor e jogar na janela. E estou aprendendo muito. Tenho conquistado, nessa série, uma liberdade que nunca tive.
iG: Você tem muitas cenas de lingerie na série. No ano passado, durante gravação de “Cheias de Charme”, publicaram fotos suas de biquíni e falaram sobre celulites...
Tais Araujo: Tô nem aí para isso! Acho que estou no lucro porque tive um filho e consegui emagrecer (risos). Pensei que ia ficar gorda para sempre. Porque minha família é assim. Também uso coisas que valorizam meu biotipo, né? Não sou boba (risos). Sempre uso roupas decotadas, que deixem o ombro de fora, porque ele é magro. Estou fazendo capoeira, mas não é nem pelo papel. Estava sem malhar desde a gravidez do Jovi . Ele adora, vai comigo, fica me imitando, corre de um lado para o outro.
iG: E o cabelo curto? Queria radicalizar?
Tais Araujo: Eu sempre quis ter cabelo curto. Adoro. É uma liberdade. Com cabelo curto, você explora mais outras partes do corpo. Você coloca um ombro de fora, um pescoço de fora e fica bonito. Ai... não queria deixar crescer. Mas, se tiver de deixar, para alguma personagem, tenho certeza que depois dos meus 50 anos vou passar a tesoura novamente. Vou manter minha maturidade com cabelo curto.
iG: Você e Lázaro são artistas politizados e você, em vários de seus personagens, levantou bandeiras. O que achou da indicação de deputado Marco Feliciano para chefiar a Comissão de Direitos Humanos?
Tais Araujo: Esse cara não me representa! Nem como mulher nem como cidadã. Isso tem de ser dito. Tudo que ele fala é baboseira. Não comungo com nenhuma opinião e ideia dele. Realmente, não gostaria que ele ocupasse esse cargo. Mas, pelo menos, tenho visto acontecer algo muito bonito no nosso país.
iG: O quê?
Tais Araujo: A gente está se movimentando. E acho que as redes sociais são muito importantes nesse sentido. Temos que atingir o máximo de pessoas possíveis, levantar a voz e falar que não queremos esse cara lá. Acho que desde o impeachment do Collor é o momento em que mais vejo o povo falando o que quer. E isso tem de ser respeitado. Temos que conhecer nossos direitos: quantos milhões de assinaturas são necessárias? Vamos fazer isso. E temos que cobrar.
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